UM TRECHO DO LIVRO

UM TRECHO DO LIVRO

Pessoal, publico abaixo um trecho do primeiro capítulo do meu novo livro. Espero que ele deixe um gostinho de quero mais!

O MAR

Coisa melhor não havia. De jeito nenhum.
A areia macia e tão branca, a água engolindo o sol mais adiante e ele ali, de bermuda e camiseta, um vento forte a lhe trazer frio.
Não. Nem vento nem frio. Era a brisa do mar que agora e então e finalmente e… nossa. Eram muitas palavras, muitos es, um exagero. Mas era um exagero o que estava sentindo. Porque só agora estava conhecendo de verdade. O mar.
Os braços entrelaçaram as pernas e as coxas se acostaram no peito. Enterrou os pés na areia úmida, respirou profundamente e sentiu. O perfume. Coisa boa, fala a verdade? Se é. Se é…
Quando Carlos Henrique era pequeno, todas as noites sentava-se em frente de casa para ouvir o barulho do mar.
Havia um velho banquinho de madeira, uma tábua de apenas um metro de comprimento, rente ao muro que separava a pequena varanda do restante do terreno. Com as costas e a cabeça apoiadas no murinho, Carlos Henrique deixava-se ficar o maior tempo, o maior tempo… os pés só se arrastando pela areia gelada para cá e para lá.
E o barulho suave de mar e vento entrando pelos ouvidos.
Mar e vento…
Vento e mar…
No alto, a lua cheia iluminando tudo. O olhar ficava perdido, perdido. E o pensamento.
Mas era um barulho que vinha de dentro. De dentro dele, pois na verdade não havia mar nenhum. Nenhum.
Carlos Henrique gostava, era um menino sonhador. Então ficava inventando essas coisas de ouvir barulho, de sentir o gelado da areia, o gelado da água… e a boca desenhava um sorriso no meio da brincadeira.
Mas ninguém via nada. Ninguém. Era tudo muito particular. Íntimo.
Carlos Henrique se distraía tanto, mas tanto, que Maria Cândida sempre precisava chamá-lo. Ela abria a portinhola da sala e dizia:
– Entra, Carlos Henrique.
– Já vou. Agora tô ouvindo.
– Ouvindo o quê?
– O mar.
– Que mar, menino?
Carlos Henrique erguia os ombros, pendia a cabeça para um lado. Maria Cândida insistia:
– E desde quando você já ouviu o mar? Já viu o mar?
A resposta na ponta da língua:
– Vi, sim. Na televisão.
– Tá certo, tá certo. Agora vai, entra.
– Agora, não. Tô ouvindo o mar.
– Mas que mar, menino?
– Esse aqui. De dentro.

Eu, Carlos Henrique e Luana, na praia de Juquehy.

Fotos do Jo.

COMEÇA HOJE A FEIRA DE BOLOGNA

COMEÇA HOJE A FEIRA DE BOLOGNA

A mais importante feira infanto-juvenil do mundo, aberta somente para os profissionais do mercado editorial, começa hoje e vai até a próxima quinta-feira, dia 25. Um dos estandes brasileiros será organizado pela CBL em parceria com a Apex-Brasil, por meio do projeto setorial Brazilian Publishers, com área de 96m². O outro ficará a cargo da FNLIJ (Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil), que já organiza a participação do Brasil na feira desde 1974. Entre as editoras presentes (Callis, Cosac Naify, DCL, Elementar, Manole, Melhoramentos, Pallas, Panda Books, Pinakotheke, Rideel, Todolivro), estão a Editora Positivo, que leva na bagagem meus livros Penas pro ar e Fantasma Equilibrista e a Editora FTD, que leva meu Janelas de dentro. Serão apresentados na feira mais de 809 títulos e 1.181 exemplares de livros.

TUDO O QUE MAIS QUERIA

TUDO O QUE MAIS QUERIA

Luana ama o mar, adora escrever e o que mais a incomoda é a sua falta de desejos, é saber que todas as coisas sempre estiveram ao seu alcance sem que nunca fosse preciso desejá-las. Carlos Henrique ama o mar, tem muitos desejos e acima de tudo uma enorme vontade de realizar seus maiores sonhos. As histórias de Luana e Carlos Henrique seguem paralelas: Luana em sua mansão, na praia; Carlos Henrique em sua casa, na cidade. Duas vidas aparentemente diferentes, mas com conflitos e anseios comuns. Tudo o que mais queriam era poder encontrar alguém para partilhar todo esse universo de possibilidades que é a vida de cada um deles.


Adolescência, Amadurecimento, Amizade, Relacionamentos familiares, Identidade, Infância, Literatura, Sonhos, Ética, Meio ambiente, Pluralidade cultural.

Autora: Tânia Alexandre Martinelli

Ilustrações: Allan Rabelo

Número de páginas: 80

Editora do Brasil

ISBN: 9788510047999

Ano de edição: 2010

Indicação: a partir de 12 anos 

JANELAS DE DENTRO NA FEIRA DE BOLOGNA!

JANELAS DE DENTRO NA FEIRA DE BOLOGNA!

Entre as 20 obras selecionadas, a editora FTD incluiu meu livro Janelas de dentro em seu catálogo internacional, elaborado para a Feira do Livro de Bologna, na Itália, que acontecerá entre os dias 23 e 25 de março. Todos os anos, editores, autores, ilustradores, produtores de TV e filmes, agentes literários e vendedores de livros se reúnem para comprar e vender direitos autorais, fazer novos contatos, discutir as últimas tendências do setor e descobrir oportunidades de negócios, além de encontrar o melhor em publicações infantis e produções multimídia. Coisa boa! O tema principal da minha história é o neonazismo. Sem dúvida, um assunto mundial. Se quiser conhecer o catálogo todo, é só acessar: http://www.ftd.com.br/Hotsite/Catalogo/Bologna/
REINAÇÕES DE JOSÉ MINDLIN

REINAÇÕES DE JOSÉ MINDLIN

Faleceu na semana passada, com 96 anos, José Mindlin, o homem que disse que trocaria sua notável biblioteca por 2/3 de sua vida para que tivesse tempo de ler mais.
O livro ao lado é de 2008. Comprei-o naquele mesmo ano na Bienal de São Paulo, quando o autor foi homenageado. Era esperado até que ele aparecesse para autografá-lo. Quanta honra! Mas, por problemas de saúde, foi enviado um representante seu. O livro é uma delícia, as ilustrações, que se mesclam às fotos de José Mindlin, seus pais imigrantes e seus irmãos, são lindas. Ali ele nos conta um pouco de suas peraltices, mas também – e como não? – seu amor pela leitura desde muito cedo. Esse amor o fez abrir em 1946, junto com o amigo Claude Blum, a Livraria Parthenon, especializada em obras raras. Acontece que eles dois mais a funcionária Marlise Meyer eram apaixonados por livros e toda a vez que vendiam um, ficavam tristes. Descobriu, claro, que isso não poderia dar certo nunca! Mais tarde conseguiu comprar de volta a maioria dos exemplares vendidos.
No final do livro, sua palavra. Seu conselho. Riquíssimo, valiosíssimo tanto quanto a sua biblioteca:

“Se vocês não se importam, acho que vou acabar. Só que, antes disso, gostaria de contar uma coisa que eu fiz em 1927, e que eu acharia ótimo que vocês também fizessem, mesmo que seja mais tarde: comecei a ir aos sebos de São Paulo para comprar livros! Foi assim que comecei a formar a biblioteca aqui de casa. Acho possível, vendo meus bisnetos de 5 anos, que vocês já tenham começado a formar a biblioteca de vocês – seria ótimo! Mas se ainda não começaram, pensem em fazer isso, porque ler e juntar livros é uma das coisas mais gostosas da vida!”

Segunda-feira passada, o programa Roda Viva, da TV Cultura, reprisou a entrevista feita com José Mindlin, em 2006. Como vale a pena ouvi-lo falar! A sua simplicidade, a sua cultura, a voz pausada, sempre calma, nos encanta. E nos faz ainda mais apaixonados pelos livros.
Se você não viu, poderá vê-la na íntegra em:
http://www.tvcultura.com.br/rodaviva/programa/pgm1040

A convivência com livros é muito agradável e quase que independente da leitura. A gente passa e os livros ficam, de modo que outros lerão os livros que não li.”