Ao escrever o livro ao lado, eu me envolvi com diversas pesquisas sobre o adolescente infrator, as faltas de oportunidades, o que é que cada um poderia fazer para termos uma sociedade mais justa. Foi um trabalho que durou muitos meses. O que é que eu posso fazer? é a pergunta que Thiago, o personagem do livro, se faz o tempo todo depois que se depara com um assalto no ônibus e cujos assaltantes são dois adolescentes como ele. Li muita coisa sobre vários programas que buscavam oferecer aos jovens novas oportunidades, novos desafios, enfim, proporcionavam condições para que eles tivessem uma vida mais digna. Penso que se não acreditarmos que as pessoas podem mudar suas escolhas, traçar novos objetivos de vida, se realmente não acreditarmos no ser humano, então, nossa vida não tem mesmo nenhum sentido. Algumas semanas atrás, conheci o Naia – Núcleo de Atendimento Integrado de Americana. Eu já tinha escrito o livro quando ele foi criado e lembro muito bem de toda a polêmica da população em não querer que ele existisse. Iam trazer para cá a velha Febem? Onde já se viu? O que acontece é que muita gente não sabe nem quer saber de todo o trabalho que envolve uma instituição assim e não vê que esses adolescentes precisam de oportunidades para mudar. Precisam acreditar que podem ter um futuro melhor. De que adianta fecharmos os olhos para isso? Pensarmos que desde que o mundo é mundo existem injustiças sociais é a melhor solução? Todos nós temos responsabilidades e cabe a nós transformarmos a sociedade em que vivemos. Acabei indo ao Naia por conta de uma reportagem no jornal sobre uma exposição de artes que os adolescentes fizeram. Por acaso (ou não) eu tinha acabado de receber alguns exemplares desse livro e levei ao Naia. Autografei os livros, conversei com os 11 adolescentes sobre as minhas pesquisas, sobre a minha vida de escritora, e descobri muitas coisas interessantes. Alguns deles, por exemplo, já conheciam alguns dos meus livros, um deles até já tinha lido o Pai Eu?! na escola em que estudava. Outro me perguntou se eu conhecia o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca, em São Paulo. Ele conhecia. O que pensar sobre isso? Será que são jovens tão diferentes assim de todos os outros?
Oferecer oportunidades iguais àqueles cuja vida impôs caminhos diferentes.
É o pensamento do Naia e acho que isso faz toda a diferença.
Logo abaixo, eu e os adolescentes, as educadoras e os trabalhos expostos.