Uma pesquisa da Fecomércio, do Rio de Janeiro, divulgada pelo Estadão, na semana passada, apontou que nos dois últimos anos os brasileiros leram menos livros. A jornalista Evelise Rossi Bueno, do jornal O Liberal, de Americana, SP, conversou comigo a respeito. Leia a entrevista, na íntegra:
Sendo você a ponta do processo de leitura, o início da cadeia, o que acha dessa estatística? Você também sente isso na prática, Tânia?
No meu ponto de vista, estatísticas nem sempre conseguem abranger toda a realidade. É fato que o Brasil, de um modo geral, tem um menor número de leitores quando comparado a outros países. Isso é indiscutível. Mas o que dizer de algumas cidades do Rio Grande do Sul, por exemplo, onde o número de livros por habitantes se equipara aos da Europa? Das grandes livrarias que estão sempre lotadas? Evidentemente, o ideal seria que isso ocorresse em todas as regiões do país. Ainda há cidades onde sequer existem bibliotecas. Mas eu acredito que um bom trabalho de educação, incentivo e políticas governamentais sérias façam todo o Brasil chegar lá. Já existe um trabalho de base sendo feito nas escolas nesse sentido. E o resultado é que tenho percebido exatamente o contrário dessa estatística. A cada ano que passa, há mais leitores. Só para citar um exemplo, meu livro Perseguição, cujo tema é o bullying, tem 6 meses de lançamento e já está na 3ª tiragem.
Como escritora de livros infantis e juvenis, acredita que uma possível solução do problema esteja nesta faixa etária? Tem trabalhado esse estímulo?
Com raras exceções, não há adulto leitor que não tenha sido uma criança, um adolescente leitor. Por isso é fundamental o trabalho dos professores e pais – não devemos nunca nos esquecer de que o primeiro contato da criança com o livro deve ocorrer em casa, muito antes da idade escolar. Uma família que lê, conta histórias, leva o filho a bibliotecas e a livrarias, certamente transmitirá à criança o gosto pela leitura. O amor pelos livros deve começar cedo. No meu trabalho como escritora, também tenho estimulado a leitura em escolas e feiras de livros através das palestras, bate-papos e também através de e-mails que recebo de leitores e professores de todo o país.
Na sua opinião, quais podem ser os perigos para uma população que lê menos a cada dia? Como isso pode ser mudado?
Uma pessoa que não lê tem uma visão muita estreita do mundo. Não vivencia novas experiências, não ganha riqueza de vocabulário, não consegue se expressar, tanto verbalmente quanto por escrito. As dificuldades são vistas a todo momento, seja através de um jovem que necessita escrever um texto para a escola ou vestibular, seja através de um adulto que precisa redigir um e-mail em seu trabalho. Quantos se expressam com clareza? Quantos se comunicam e se fazem entender? Há ainda outro ponto, este cultural: o valor dos livros. O que o livro significa para cada família? Qual o valor que lhe é dado? É passada uma imagem de que o livro enriquece, apaixona, move o mundo ou a de que o livro é caro, supérfluo, descartável?