As Intermitências da Morte (2005) foi um livro que li há muito tempo e que me apaixonou de cara. Não só pelo jeito todo especial com que José Saramago costuma escrever, mas também pela história, por todos os caminhos que autor faz mostrando que, se um dia não houver morte, a tragédia terá se instalado. O que acontece se as pessoas simplesmente pararem de morrer? Seria mesmo um fato feliz, a maior conquista da humanidade? A vida eterna?

Saramago percorre esse caminho durante a narrativa, nos provoca com um final surpreendente e nos deixa a certeza do grande escritor que foi. Certamente, a vida eterna seria um problema, mas nos parece que sempre é cedo para uma pessoa de tão grande talento partir.

Na entrevista ao Roda Viva, da tevê Cultura, de 2003, reprisada no último domingo, Saramago termina falando sobre o compromisso sentido com seus leitores. Que não é possível ficar indiferente quando se tem um público de 4 mil pessoas no Teatro Colón, em Buenos Aires, e saber que ainda 1000 pessoas se encontravam lá fora porque não conseguiram entrar. Ele diz ainda que um livro sempre precisa estar acima da nossa compreensão, inclusive quando se refere às crianças. Porque o leitor, mesmo a criança, vai buscar essa compreensão, não duvidemos disso.

As cinzas do escritor serão colocadas nos jardins da sua Fundação em Lisboa, junto com uma placa:

“mas não subiu para as estrelas, se à terra pertencia”

trecho do livro Memorial do Convento, declarada outras vezes por ele como sua obra preferida.