Tânia Alexandre Martinelli: Caio adora histórias em quadrinhos, admira vários autores, e esse gosto pelas HQs o estimulou a produzir as próprias histórias. O livro apresenta duas histórias paralelas: a vida real de Caio e a ficção criada por ele em suas HQs. No que se refere ao mundo do personagem, o narrador é ele mesmo, um adolescente em crise que usa a nona arte para extravasar suas emoções. Ao escrever o livro, fiz várias pesquisas sobre esse gênero que tem conquistado cada vez mais espaço no mundo inteiro. São muitos autores estrangeiros, muitos brasileiros – os quais vem merecidamente se destacando e ganhando prêmios importantes. Na história de Caio, todos os personagens criados por ele fazem referência a roteiristas estrangeiros, uma vez que é esse tipo de quadrinhos que ele mais lê, mais gosta e se identifica. Cada um deles leva o nome de seus autores preferidos, como Will (Will Eisner), Neil (Neil Gaiman), Alan (Alan Moore) e Stan (Stan Lee). Há ainda o Frank (Frank Miller), o policial de suas histórias. Mas a referências não param por aí. Como todo herói tem suas características, as criações de Caio também têm. Todos os superpoderes dos seus heróis se relacionam aos personagens que esses grandes autores criaram. Caio não é um garoto com a mente muito aberta, a princípio, e suas criações parecem não fugir muito do formato que tem experimentado em suas leituras: vilões, heróis e heroínas, estas últimas pautadas na aparência física e na fragilidade. Assim é até conhecer uma pessoa com uma visão um pouco diferente da sua.
Tânia Alexandre Martinelli: Fui muito fã na infância e na adolescência. Meus personagens amados eram os da Turma da Mônica, do Maurício de Souza, assim como são para praticamente todos da minha geração. Lia também os quadrinhos do Wall Disney. Aprendi ampliar desenhos, nessa época, e isso se tornou meu passatempo preferido. Ampliava todos eles em folhas de sulfite por puro prazer de tê-los comigo. Passada essa fase, pulando anos, quando fui professora trabalhei muito com as HQs nas minhas aulas de Português, com as revistas e as tiras. Na época das minhas pesquisas para o livro, voltei a ler. Mas claro, histórias completamente diferentes, aí já eram os quadrinhos para jovens e adultos. Não conhecia muita coisa sobre os mangás, nem as histórias para esse público. Assisti a todos os filmes disponíveis baseados nas HQs (e sobre isso há uma cena interessante em que Caio afirma ao amigo Davi que “a gente não pode dizer que esses filmes inspirados nos quadrinhos representam as HQs. Eles podem ser bons e tudo, mas não são as histórias em quadrinhos, não são o que chamamos de Nona Arte. São filmes.”). Por fim, foi um longo trabalho de pesquisa. E que valeu muito a pena.
Tânia Alexandre Martinelli: A escolha da Quanta Estúdio foi da equipe de arte da Editora do Brasil em conjunto com o editorial. Todo o projeto gráfico foi muito caprichado; o papel e o formato do livro têm as características de um livro de HQ. Da Quanta, trabalharam Julia Bax, Monique Novaes e Davi Calil. Cada um desses artistas trabalhou a ilustração de uma forma: os quadrinhos somente com balões, já que meu personagem não desenha, apenas escreve (e ele está justamente à procura de um/uma desenhista); os mangás e a caricatura dos autores de HQs que aparecem citados no final do livro, assim como a deles mesmos e a minha. O resultado de tudo isso foi mais do que aprovado por mim.
Tânia Alexandre Martinelli: Comentei um pouco na questão que se refere ao meu gosto por quadrinhos. Há anos eles vêm sido valorizados nas salas de aula. Quando eu era criança, isso inexistia, imagine só se ia entrar esse tipo de linguagem nas aulas. Os quadrinhos eram vistos como mero entretenimento. Não que não possam ser, e exatamente por ter esse aspecto lúdico é que é muito interessante de se trabalhar com os alunos. Essas histórias também trazem uma visão política, comportamental, alguns têm a acidez e a sutileza que só uma leitura mais atenta vai perceber. E isso é ótimo para desenvolver o senso crítico e a percepção dos fatos, a interpretação e a leitura do que está nas entrelinhas. Como na leitura de qualquer texto, aliás. Precisamos ajudar o aluno a entrar na profundeza das palavras e a não ficar só no superficial.
Tânia Alexandre Martinelli: Mantenho um blog com todos os meus livros, com as sinopses e comentários em alguns deles. É este aqui: www.taniamartinelli.blogspot.com
Tânia Alexandre Martinelli nasceu em Americana, São Paulo, em 19 de julho de 1964. É formada em Letras, Língua Portuguesa (PUCC) e Espanhola (FAM), e foi professora de Português durante dezoito anos. Publicou seu primeiro livro em 1998, atualmente são mais de 30, e nos últimos 11 anos vem se dedicando integralmente à literatura, escrevendo e ministrando palestras para alunos e professores. Seus livros têm sido selecionados para vários programas de leitura em todo o país e catálogos internacionais como o Children’s Book, Feira de Bolonha, Itália (2014), e Feira de Frankfurt, Alemanha (2012). “O vaso chinês” foi selecionado em 2014 para o Acervo Básico da FNLIJ – Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, na categoria jovem.